Cobertura: Lollapalooza @ Jockey Club, São Paulo

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LOLLAPALOOZA: BRASIL NO MAPA DOS FESTIVAIS
Evento teve bandas ruins (MGMT, com público preferindo aplaudir raios que caíam do céu), boas surpresas (Friendly Fires), desfile de hits (Foo Fighters), chateações (Racionais MCs) e Skrillex torturando robô

Por Juliana Simon
De São Paulo

Dois dias de música, 135 mil pessoas, um espaço de 120 mil metros quadrados, 50 atrações, cinco palcos, R$ 600 reais por ingresso. Com esses números superlativos o festival Lollapalooza chegou a São Paulo nos dias 7 e 8 de abril. E o saldo foi altamente positivo. A música já se sabia que seria boa, mas a organização surpreendeu ao levar um festival gigantesco a capital com sucesso.

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Veja os shows desta edição na íntegra

Shows começando religiosamente no horário (menos o do Racionais Mcs, grande papelão do evento); filas grandes, mas “habitáveis”; estrutura de banheiros, alimentação e transporte quase decentes (convenhamos, um passo gigantesco quando se trata de shows por aqui). O segredo para não se aborrecer era não ter preguiça, andar bastante para comprar fichas e comer em paz, para não pegar filas homéricas e banheiros químicos menos nojentos.

O “Lolla” fez a alegria de variadas vertentes musicais.

Primeiro dia
Wander Wildner abriu o segundo palco principal – Butantã – com um show animado sob o sol escaldante do meio dia. Com repertório conhecido, presença de palco incontestável e boa banda, o músico gaúcho provou que tem fôlego para preencher qualquer espaço.

No mesmo palco, os pupilos de Dave Grohl, Cage The Elephant levaram a sujeira grunge ao ápice e agradaram mesmo quem não os conhecia. O vocalista Matt Shultz abusou dos moshs, das jogadas de cabelo e marcou a apresentação. Ainda neste palco, tocou a rock-folk-só-sorrisos Band Of Horses. Muitos fãs cantando cada letra e público surpreendentemente grande fizeram o show valer a pena, apesar da música não ser exatamente especial. Destaque para “The Funeral”, tocada do meio para o fim do show e ainda mais bonita ao vivo.

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Cage The Elephant (Foto: Cambria Harkey / Divulgação)

Atravessando o campão, desviando das filas para fichas (as pillapalooza de R$ 4 cada!), chegava-se ao palco principal, o Cidade Jardim. Já às 17h30, uma multidão de fãs do Foo Fighters se aglomerava no espaço para o show que começaria às 20h30. Problema nenhum, se não fosse o show do TV On The Radio no caminho, às 18h. A banda foi impecável e fez um show incrível, como já esperado. No começo, tocaram para um batalhão de desinteressados. No final, já se apresentavam para meio batalhão que não só prestava atenção, como gostava e perguntava sobre as banda aos fãs da banda perdidos no mar de gente que já não deixava um milímetro de espaço.

O resto é história. Uma “fucking good” história. Às 20h30, subia ao palco Dave Grohl e sua banda e sua faixa de cabelo e sua guitarra azul. Um show de duas horas e meia de hits para não se esquecer. Apesar das firulas e da pose, Dave é, sem a menor dúvida, um showman capaz de agitar um Jockey Clube inteiro e se fazer ouvir inclusive do outro lado da Marginal (para quem não é de São Paulo, essa distância mostra que o show não estava alto…estava MUITO alto).

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Foo Fighters no meio do povo (Foto: Marcelo Soubhia / Divulgação)

Segundo dia
O dia começou ainda mais cedo (e mais quente) com o show de Blubell. A lotação era bem tímida e o palco era o pior – Alternativo -, mas valeu para quem queria conhecer a cantora. Quem já tinha visto em lugares menores, se decepcionou com o micro show que não chegou a uma hora. A moça tem repertório e tem voz, mas algo não funcionou. Talvez a banda que mudou ou a performance que não é muito para festivais.

No palco Butantã, o baile cigano-punk de Gogol Bordello foi memorável. Os ritmos étnicos, para o qual muitos torceriam o nariz não fosse o hype, levantaram uma nuvem de poeira. Feio, esquisito e irresistível, Eugene Hütz é um Manu Chao regado a vinho. O discurso é militante, revolucionário, mas deliciosamente festivo.

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Friendly Fires (Foto: Edu Lopes / Divulgação)

No mesmo local, Friendly Fires fez um dos melhores shows do festival. Ed Macfarlane comanda um carnaval indie de primeira com reboladas, chacoalhadas e ótima banda. A comoção foi geral para o último show ensolarado do Lolla.

O sol foi embora e um temporal se anunciava. Capas de chuva devidamente vestidas e pessoas ‘entuchadas’ em uma tenda promocional e no único palco coberto do festival – o Perry – deram uma vista engraçada. Uns desesperados porque a chuva caía no chope, outras pelas chapinhas (afinal, festival não é só música e diversão, é também um desfile de moda. É ver e ser visto). E era o que tinha de mais interessante mesmo. O show do MGMT estava tão chato que muitos aplaudiam os raios que riscavam o céu do festival. Em “Kids”, meio mundo saiu dos lugares cobertos para ver mais de perto. Pura decepção, nem em hits a dupla emociona.

Skrillex (Foto: Edu Lopes / Divulgação)

Mais tarde as coisas não melhoraram muito. Às 19h, a disputa era Foster The People de um lado e Skrillex do outro. A primeira é, ao que tudo indica, uma one hit Wonder. O segundo só pode ser resumido pela descrição do jornalista Cirilo Dias: “Parece que ele tá torturando um robô”.

O lado bom foi que deu para sentar, descansar e se preparar para o fim, com Arctic Monkeys. A banda já é considerada grande e muito boa, mas ainda não tem status de headliner, como o Foo Fighters da noite anterior. De qualquer maneira, foi outro ótimo show do festival. Alex Turner cresceu, apostou no topete (literalmente!) e conduz rock de qualidade. Direto e reto, o repertório fechou o festival com muitos hits, execução impecável e simpatia do vocalista (o resto da banda continua tímido mesmo).

O Brasil está cada vez mais no mapa dos festivais e o Lollapalooza deu um passo a frente em termos de organização em relação o Planeta Terra e SWU. Os preços são salgados e nada está perfeito, mas foram dois dias incríveis para viver o que há de bom no rock pelo mundo e pensar em eventos ainda melhores para o público brasileiro.