Cobertura: Guaiamum Treloso celebra carnaval e seres da mata com Elza Soares, Letrux e Nação Zumbi

Tom Cabral/Divulgação.

Guaiamum Treloso Rural 2018 se consolida como referência no calendário cultural de Pernambuco

Em sua terceira edição, o festival pré-carnavalesco Guaiamum Treloso Rural, realizado no último sábado (20), mostrou que caminha em direção à formação de mais um grande festival em Pernambuco, do mesmo porte do Rec-Beat, Abril Pro Rock e Coquetel Molotov. Foram mais de 38 atrações, entre bandas, DJs e prévias de blocos carnavalescos, divididos em quatro palcos, na Fazenda Bem-Te-Vi, no quilômetro 13 da Estrada de Aldeia, em Camaragibe, Região Metropolitana do Recife. O folclore brasileiro foi o homenageado deste ano, com seres da mata. Ilustrados por Heitor Pontes e Alexandre Pons, os personagens ganharam uma versão moderna do Saci, Mula-sem-cabeça e Caipora, com engajamento e integração com a natureza.

No palco principal, o Bem-Te-Vi Guaiamum, a festa teve início com quase duas horas de atraso, com Lucas & a Orquestra dos Prazeres. Foram sucedidos pelo sexteto pernambucano Marsa, Cidadão Instigado, Baco Exú do Blues e Francisco, el Hombre. Atração aguardada com ansiedade pelos fãs, Elza Soares, a mulher que canta até o fim, retomou o show A Voz a Máquina. Mesmo em um momento complicado da saúde, Elza não deixa de fazer os shows da turnê, apesar da dificuldade de locomoção, que a levam a ficar sentada.

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No repertório, Elza traz canções de outras fases de sua carreira, além de releituras. A cantora procura reinventar a sua voz. São samples, loops, drum machines e synths, que dão forma a uma voz processada. Para acompanhar, uma sequência de vídeo cria projeções em um cenário em branco. Elza é a Voz! É o alumbramento de sua música e de sua voz em nós. É a sua performance como artista completa. Seu canto e sua presença iluminada são o melhor da festa. O público está ali para vê-la, para eternizá-la dentro dele.

No palco Skol, a banda Pupila Nervosa deu início às apresentações. Nesse mesmo polo, Nação Zumbi fez um mix de clássicos com os quais o público já está familiarizado como “A Praieira”, “Quando a Maré Encher” e “Banditismo Por Uma Questão De Classe” e o som do seu novo disco, batizado de Radiola ZN. Completaram ainda a programação Jorge Cabeleira, Metá Metá (indicado ao Grammy Latino) e Di Melo.

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Nação Zumbi foi um dos destaques. (Victor Jucá/Divulgação).

Letrux, um dos destaques do Guaiamum, levou o climão para o evento, em seu primeiro show na região Nordeste do Brasil. Estreia solo da cantora carioca Letícia Novaes, Letrux foi vencedora do prêmio de Melhor Disco do Ano com Letrux – Em Noite de Climão, abordando a sexualidade feminina sem pudores, além de “celebrar” a fossa amorosa. A eleição foi realizada pelo júri especializado do Prêmio Multishow, desbancando Chico Buarque e o rapper Rincon Sapiência.

A banda foi escalada para fechar a noite do palco Skol e cumpriu a promessa de fazer o povo balançar. No palco, a cantora flerta com o tragicômico, o que aparece em letras com tom de deboche e na sua forma jeito teatral de cantar. Letícia, que revelou ser neta de pernambucanos (o sobrenome Novaes, não por acaso, vem do seu avô, natural de Floresta, no Sertão), não esconde seu lado bem humorado e, do alto de seu 1,85m, com disposição para performar suas músicas autorais com direito a danças e figurino imponente. Letrux diz a que veio e promete não “passar batida na festinha”, como ela mesma canta.

Desde Elza Soares a Nação Zumbi, a programação do Guaiamum Treloso Rural parecia fazer surgir apenas uma palavra na mente do público: eclética. Além de promover o encontro de diferentes gêneros musicais, houve espaço para a cultura popular de Camaragibe. Quatro grupos de Ursos de Carnaval e do Maracatu Rural Cambinda Dourada de Camaragibe participaram desta terceira edição do festival. Para quem estava à procura de fantasias para a Folia de Momo encontrou peças carnavalescas confeccionadas artesãos da cidade.

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Elza Soares fez um dos melhores shows da noite. (Tsuey Lan Bizzochi/Divulgação).

A escolha por um espaço totalmente aberto, contudo, foi prejudicada pela instabilidade climática. As chuvas que caíram no Grande Recife nos dias que antecederam o festival fizeram com que as pessoas metessem o pé na lama para dançar em alguns pontos da festa. Parte do público que já havia chegado ao evento aproveitava para sentar na grama, conversar e observar os artistas passando música, acampando entre uma apresentação e outra. O festival contou, ainda, com uma Tenda Encantaria, feira de artesanato indígena e pinturas corporais realizadas pelos índios e feirinha colaborativa.

Uma noite com ótimas apresentações, é inegável. Porém, os atrasos foram registrados em quase todas as apresentações, cansando o público presente. A festa ultrapassou a meia-noite, horário marcado para o seu encerramento, como anunciado pela organização do festival. Também houve reclamações com a falta de sinalização. Os copos retornáveis acabaram rápido e as pessoas tiveram que beber em latas, que invariavelmente eram jogadas no chão, quebrando a proposta ecológica do evento.

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