Cobertura: Dead Combo & Royal Orquestra das Caveiras em Lisboa

DeadCombos

DeadCombos

EXTROVERSÃO LISBOETA
Uma das bandas mais celebradas de Portugal, inventores do termo “tango-billy” faz show histórico para promover DVD

Por Pedro Salgado
Colaboração para a Revista O Grito!, em Lisboa

Confesso que fazia uma ideia muito diferente deste concerto instrumental. Na prática tratava-se de justificar em palco o mais que merecido sucesso do ‘disco da década’ para Lusitânia Playboys atribuído anterior e justamente pelo jornal semanário “Expresso”. Em causa estava a promoção do DVD Dead Combo & Royal Orquestra das Caveiras Ao Vivo no São Luiz.

O espetáculo atrasou-se meia hora devido à enorme afluência de público no auditório do Cinema São Jorge, mas possibilitou uma recompensa com a audição de um fundo sonoro étnico que marcou a entrada do gangster e o gato pingado mais famosos de Portugal. O guitarrista Tó Trips e o contrabaixista Pedro Gonçalves corresponderam à encarnação e aos aplausos com uma “Janela” vestida de leves acordes e harmonia.

Ao segundo tema, primeira comunhão total com o clássico “Putos a roubar maçãs” a proporcionar um crescendo entre o contrabaixo e a guitarra eléctrica com partes vibrantes lembrando música do leste europeu. Gonçalves alternava o contrabaixo com a guitarra elétrica e aparentava ser o mais extrovertido, cabendo a Trips um papel mais tímido, escondendo-se por baixo da sua cartola.

Há perfume português na homenagem à fadista Amália Rodrigues em “Esse olhar que era só teu” e um dos melhores temas da noite, “Sopa de cavalo cansado”, recordou o Western americano e permitiu a Gonçalves brilhar. “Tem a ver com aquelas pessoas do campo que comiam pão com vinho”, referiu Tó Trips. A Royal Orquestra das Caveiras entrou em cena na música “Havana 1970”. Metais, bateria e piano conferiram um sabor onírico a uma canção em teletransporte para Cuba do período.

As mãos da pianista Ana Araújo pareciam praticar um ato de amor ao percorrerem o teclado e Tó Trips despertou as atenções virando a guitarra e lançando uma moeda no tampo ao som da ode ao saloon de “Mr.Eastwood”. Os aplausos vibrantes do público lisboeta levaram Pedro Gonçalves a confessar “estou estúpido da cabeça, não esperávamos tanta gente”.

Os inventores do termo tango-billy (mistura de psychobilly com tango) são exímios criadores de paisagens sonoras e capazes de “acordar as tropas” também. Acelerações reais com um “Canção do Trabalho”, marcadamente rock e o rockabilly de “Old Rock N Roll Radio”. O mestre de cerimónias Trips mostraria o seu lado endiabrado ondulando com a guitarra no primeiro tema do encore, “Lisbon/Berlin”, onde o versátil baterista Alexandre Frazão se transformou no auxiliar mais precioso dos dois astros da noite.

Em jeito de fanfarra, prestando homenagem à extinta feira de diversões de Lisboa, os Dead Combo e a Royal Orquestra das Caveiras despediram-se com “Malibu Fair”. Para trás ficavam duas horas de música visceral, envolvendo a assistência numa torrente sonora inesquecível. Foi uma noite de conquista para a banda lisboeta e uma performance que justificou duas horas de sonho permanente.