Cine PE 2015: Exotismo indiano e lirismo do candomblé na noite de abertura

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Mães do Pina revela importância de mães de santo na comunidade. (Divulgação).
Foto: Daniela Nader/Divulgação.
Público lotou o São Luiz. (Foto: Daniela Nader/Divulgação).

O Cine PE já sentiu em seu primeiro dia as benesses da mudança para o São Luiz. Em edição enxuta, o evento retomou a conexão com o público e teve uma première concorrida, com cinema lotado. O público ocupou todas os assentos e invadiu as galerias, com pessoas no chão e corredores. A estreia contou com a presença do diretor inglês John Madden, que exibiu o longa O Exótico Hotel Marigold 2. Em competição, o cineasta pernambucano Leo Falcão apresentou o documentário Mães do Pina.

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O longa mostra a vida de cinco mães de santo da comunidade do Bode, no bairro do Pina, localizado na Zona Sul do Recife. O filme celebra a importância delas para as pessoas que moram no local. Através do candomblé e do maracatu, elas conseguiram fortalecer os laços sócio-culturais que deram força aos habitantes para vencer as adversidades. Hoje, o bairro sofre com a especulação imobiliária que destrói casas e desrespeita o espaço dos moradores em troca de uma suposta “requalificação” e “empregabilidade”.

Mas Falcão foge da armadilha de vitimizar seus personagens e escolhe um olhar mais poético daquelas mães do Pina. É através da força de sua cultura que o filme busca inspiração. A fotografia em preto e branco com alguns detalhes coloridos para diferenciar os santos foi interessante em alguns momentos, mas ao longo da projeção acabou sendo um problema. Com a sobriedade monocromática, a riqueza e o lirismo das religiões afro ficaram escondidas.

Mães do Pina revela importância de mães de santo na comunidade. (Divulgação).
Mães do Pina revela importância de mães de santo na comunidade. (Divulgação).

Outro problema do filme foi sua abordagem muito comedida em um assunto que tem uma imponência grande dentro da nossa cultura. Apesar das incríveis personagens em questão, faltou adentrar mais dentro daquele universo. Ficou transparente que estamos apenas na superfície de algo muito mais complexo, belo e relevante. Sem quebrar essas barreiras, o filme acaba evidenciando uma distância que já é muito evidente dentro da sociedade brasileira.

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Exotismo e alegria

Na continuação de O Exótico Hotel Marigold, o diretor John Madden decidiu abordar questões um pouco mais profundas. Depois de analisar o novo papel da velhice nos dias atuais no primeiro longa, ele agora aborda pequenas questões a partir de histórias individuais de seus diversos personagens.

Temos a descoberta do amor na terceira idade, a morte, a monogamia e a importância de nossa presença na vida das pessoas. Na trama, Sonny (Dev Patel) e sua sócia Muriel (Maggie Smith) pensam em expandir os negócios através da compra de um novo hotel na Índia. Temos também os percalços nos preparativos do casamento de Sonny com sua noiva Sunaina (Tena Desae).

Foto: Daniela Nader/Divulgação.
O diretor John Madden (Foto: Daniela Nader/Divulgação).

Mais do que que o primeiro longa, esta continuação traz mais elementos do cinema bollywoodiano de comédia, mas de maneira palatável ao espectador ocidental. Temos as danças coreografadas, brigas e muitos momentos de romances açucarados, elementos-chave da cartilha indiana de cinema. É um trabalho que cumpre bem seu papel de mostrar o lado positivo da vida. “Fico feliz de ter trazido meu filme para o festival, pois o Brasil tem uma grande tradição em cinema”, disse Madden. “Esta é uma das salas mais bonitas que já vi”, falou sobre o Cine São Luiz, que foi todo decorado com motivos indianos especialmente para o longa.

O elenco tem ainda Bill Nighy, Celia Imrie, Israr Azam,Richard Gere, Judi Dench, Lillete Dubey, Liza Tarbuck, Penelope Wilton, Ronald Pickup, Russell Balogh e Tom Wilkinson. O filme já estreia na semana que vem em circuito comercial. A beleza das cores e sons indianos agradaram bastante a plateia que vibrava a cada reviravolta na trama.

Menos curtas

O Cine PE este ano traz menos curtas, com um ou dois por noite. Ontem tivemos a exibição do pernambucano Encantada, de Lia Letícia e do cearense Fim de Semana, do coletivo Alumbramento (Pedro Diógenes e Ivo Lopes Araújo), marcado por um profundo experimentalismo tanto na narrativa quanto no formato.

O Cine PE segue com exibições até sexta (8). Os ingressos custam R$ 4 e R$ 2 (meia).