Alejandro Gomez Monteverde | Bella

bella 3

BAIXO CUSTO, ÓTIMO FILME
Bella encorpa o grosso caldo de produções que, com baixo orçamento, ensinam como é possível construir uma boa narrativa e uma verdadeira ode poética
Por André Azenha

BELLA
Alejandro Gomez Monteverde
[Bella, MEX/ EUA, 2007]

Simplicidade nem sempre significa pobreza de recursos artísticos, muito pelo contrário. Na maioria das vezes, filmes que possuem uma história simples sensibilizam a platéia por dialogarem diretamente com os sentimentos humanos. Menina de Ouro, de Clint Eastwood, longa-metragem que deu ao cineasta o Oscar de Direção e arrebatou outras três estatuetas (incluindo Melhor Filme), encaixa-se nesse perfil. E não necessariamente é o tipo de obra que desperta debates intelectuais, geralmente oriundos das produções cinematográficas chamadas “de arte”.

Bella (2006, que chega ao mercado nacional em DVD) faz parte desse time de produções que não precisaram de grandes orçamentos para darem seu recado, e nem apela para discurssos intelectualóides. Dirigido e escrito (junto com Patrick Million e Leo Severino) de forma consistente pelo estreante em longas-metragens Alejandro Gomez Monteverde, foi ganhando um boca-a-boca tremendo em sites e fóruns de cinema na web, e arrebatou o prêmio do Público no Festival de Toronto.

bella 1

A história se apóia de maneira eficaz em dois personagens que possuem algo em comum: eles foram bastante machucados pela vida. Jose (Eduardo Verástegui) e Nina (a maravilhosa Tammy Blanchard) trabalham no restaurante do irmão dele, Manny (Manny Perez). Jose, como chef de cozinha. Nina, como garçonete. Quando a trama tem início, Nina encontra-se desnorteada. Em um curto espaço de tempo, ela descobre que está grávida e que perdeu o emprego.

Ao saber disso e da intenção da garçonete em não manter a gravidez, Jose – ex-jogador de futebol que esteve na juventude prestes a atuar por um dos maiores clubes de esporte no planeta, e precisou abandonar a carreira em virtude de uma tragédia – decide passar um dia com ela. Primeiro, andando pelas ruas de Nova York, depois caminhando pela praia próxima à sua casa E é nesse momento de perdição, redenção e descoberta que ambos encontram o que mais precisavam para (tentar) superar suas cicatrizes.

Sem precisar criar reviravoltas – um clichê no cinema atual – para surpreender a platéia, e de forma inteligente jamais citando o nome ou apresentando o pai verdadeiro do bebê, o filme cativa pela sensibilidade como é conduzido e na maneira fraternal como os atores interagem, sem precisarem transar para que se crie algum tipo de envolvimento sentimental – bella 2aliás, essa característica de amor fraternal e a própria Tammy Blanchard remetem a Menina de Ouro – pois no filme premiado de 2004 a dupla protagonista tinha uma espécie de relação pai e filha (troca-se pela amizade direta e reta), e Tammy chega a lembrar bastante a Hilary Swank de quatro anos atrás, com seus trejeitos humildes e o sorriso carismático.

Além disso, nada soa caricato. Os pais e irmãos de Jose, de origem latina, são retratados como uma família normal, sem aquele jeitão “cucaracha” de tantas outras produções americanas, e jamais o enredo descamba para o dramalhão, fazendo de Bella em seus 91 minutos de duração, um longa perfeito para quem busca uma história envolvente e dramática, para quem já passou por apuros na vida, não se fez de vítima do destino e seguiu em frente.

NOTA: 6,0

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=mJ9AkTrbxgk[/youtube]
Trailer