A passagem de John Green pelo Brasil: nunca pensei em ser um fenômeno

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John Green ao lado do ator da adaptação Nat Woff. (Reprodução/Instagram).
Foto: Reprodução/Instagram.
Foto: Reprodução/Instagram.

PRECISAMOS FALAR SOBRE JOHN GREEN
Maior fenômeno editorial atual, o escritor lançou no Brasil o longa Cidades de Papel, adaptação para os cinemas de seu best-seller. É uma das raras vezes em que o autor da obra participa de todo o processo criativo da adaptação

Por Renata Arruda
Do Rio de Janeiro

Uma das autoras que mais vende livros no Brasil é Thalita Rebouças. Com uma marca que ultrapassa o um milhão de exemplares vendidos, Thalita é adorada por adolescentes que lotam qualquer evento em que a autora esteja presente. Ela costuma brincar dizendo que “nem sabia que escritor tinha fãs”, se referindo à idolatria que desperta em milhares de jovens. Mas esse fenômeno recente cresce cada vez mais, com autores-estrela cuja fama às vezes ultrapassa a dos próprios livros em determinados lugares.

Um exemplo: na última Bienal do Livro no Rio de Janeiro, em 2013, um sábado em especial levou um público muito maior que o esperado pela própria organização e aqueles que estiveram lá se lembram da multidão que mal conseguia se movimentar nos pavilhões, as filas intermináveis e o calor infernal – situações que costumam ser incomuns na Bienal. O motivo, vim a saber depois: o badalado escritor Nicholas Sparks era um dos convidados do dia. Sei que Sparks é autor de Diário de uma Paixão e Querido John, que não li, e outros livros adaptados para o cinema, e a julgar pelo visto em blogs e redes sociais (e testemunhado no fatídico sábado), seus livros despertam uma verdadeira idolatria no público. E o mesmo acontece com parte dos autores best-sellers: às vezes basta um único título de maior sucesso para que logo o autor ou autora ganhe ares de pop star.

John Green é um desses fenômenos. Com a publicação de A Culpa é das Estrelas (Intrínseca, 2012), o autor caiu no gosto do público em geral com o romance entre dois jovens enfrentando um câncer terminal e se tornou best-seller no Brasil. A editora Intrínseca logo tratou de publicar os outros títulos de Green, e o país se tornou o lugar onde seus livros são mais bem recebidos – Cidades de Papel, por exemplo, é um título mais bem-sucedido por aqui que em qualquer outro lugar e, assim, não é de espantar que o país tenha sido escolhido para sediar a première mundial do filme que estreia dia 9 de julho, contando com a presença do autor e de Nat Wolff, que interpreta Quentin, o protagonista. É curioso quando o autor do livro adaptado seja a real estrela da première de um filme, levando fãs a ficarem na porta do hotel onde esteve hospedado ou a chegarem de tarde na porta do cinema onde ele só estaria à noite.

Ao lado de Wolff, o simpático e sorridente John Green falou à imprensa sobre as diferenças entre o filme e o livro, que trata de amizade, amor platônico e a necessidade de não se romantizar as pessoas, aceitando-as como são. Ele refletiu sobre como nossa sociedade valoriza os amores românticos e contou que, quando mais novo, era obcecado em encontrar a mulher perfeita, até entender que as coisas não são assim. Segundo o autor, o cerne da história está na valorização da amizade e ele se disse tranquilo em relação à adaptação para o cinema, já que o roteiro ficou a cargo de Scott Neustadter e Michael H. Weber, os mesmos roteiristas do bem-sucedido A Culpa é das Estrelas.

John Green ao lado do ator da adaptação Nat Woff. (Reprodução/Instagram).
John Green ao lado do ator da adaptação Nat Woff. (Reprodução/Instagram).

Cidades de Papel

Falando sobre o que o levou a escrever o livro, Green contou que teve a ideia durante uma viagem de carro que fez com a namorada pela Dakota do Sul e lá percebeu uma cidade em que não havia nada além de algumas casas e vacas. Então descobriu que se tratava de uma “cidade de papel”: espécie de cidades-fantasma que existem apenas nos mapas; uma ideia de antigos cartógrafos para descobrir se seus mapas haviam sido plagiados. Fascinado com o conceito ele percebeu que seria a metáfora perfeita para o livro que se passa em Orlando, cidade que abriga o parque Disney World, onde o autor cresceu. Segundo ele, Orlando é uma “cidade artificial”, cheia de turistas que vão até seus parques em busca de fantasias e onde até os moradores pareciam irreais. Hoje em dia ele diz já ter uma visão mais positiva de Orlando e também afirmou que acha o máximo que hoje as pessoas façam turismo pela cidade de papel por causa do livro.

Recado do #JohnGreen para os fãs da Intrínseca. São dois vídeos, pessoal! #cidadesdepapel

Um vídeo publicado por Intrínseca (@intrinseca) em

Amizade

Natt Wolff afirmou que durante as gravações do filme, se sentiu voltando ao passado, para os tempos de escola onde, assim como o protagonista do filme, ele também tinha dois melhores amigos. Ele disse que todos ficaram muito próximos durante a produção do longa, contando que Green ficava o tempo todo atrás dele sussurrando suas falas e dizendo que se tornou tão amigo de Justice Smith (Radar), que hoje eles moram juntos em Nova York.

Falando sobre amizade entre pessoas diferentes, John Green disse acreditar que elas existam, apesar das dificuldades. Ele, por exemplo, sente dificuldade em fazer amizade com fashionistas, mas procura fazer o que pode para se superar isso, tentando ser aberto e tendo empatia com o próximo.

Literatura para jovens adultos

O autor de 37 anos foi questionado sobre sua predileção em escrever para adolescentes e a maneira como mudou o mercado voltado para eles, e respondeu dizendo que não era sua pretensão se tornar best-seller e nem imaginava que seria lido em lugares tão distantes como o Brasil – tudo o que queria era estar no meio literário, escrevendo sobre o que conhecia. Apesar disso, Green reconheceu que seus livros surgiram na contramão da literatura juvenil que se fazia na época, dominada por zumbis, vampiros e lobisomens, e assim não foi difícil se comunicar com o público.

Para ele, a adolescência é a época em que perdemos a inocência, em que temos grandes paixões e questionamos nossa existência – tensões entre a inocência e a experiência que permanecem quando nos tornamos adultos. Dessa maneira, o autor afirma que não considera um desafio escrever para jovens, mas avisa que várias citações em seus livros são crenças dos personagens e não suas.

Green também contou que nos últimos anos, desde que se tornou pai, vem pensando sobre literatura para adultos, mas revelou que não pretende escrever nada para o público por enquanto e que fica feliz que muitos adultos gostem do que ele escreve, afirmando que não precisa ser adolescente para gostar dos seus livros.